O paulistano Leonardo Dias desbancou mais de 100 profissionais do mundo inteiro no concurso promovido pela plataforma Go Architect com projeto de equipamento urbano que reúne três conceitos: higiene das mãos, homenagem às vítimas da Covid-19 e informação à população
Arquiteto brasileiro é premiado no concurso internacional Coronavírus Design com projeto para cidades
O arquiteto e urbanista Leonardo Dias, de 28 anos, estava há algumas semanas confinado em seu apartamento, em São Paulo, quando sentiu a necessidade de criar uma solução acessível que ajudasse as cidades a se adaptar aos novos desafios trazidos pela pandemia do novo coronavírus. Quando soube do concurso Coronavirus Design Competition, promovido pela plataforma internacional de arquitetura Go Architect, correu para desenvolver o projeto e não desanimou diante da forte concorrência: 115 candidatos inscritos do mundo inteiro. Nesta semana, o paulistano recebeu a notícia de que havia vencido a competição na categoria People’s Choice (voto do público), além de ser eleito um dos cinco finalistas do Grand Prize (voto do júri) – único brasileiro na cobiçada lista final.
“Foi muito gratificante representar o Brasil e receber o prêmio nesse momento em que o futuro das cidades está sendo repensado. Soluções criadas por meio do design e da arquitetura serão determinantes para a retomada da circulação nas ruas e da vida social com mais segurança e conscientização”, diz Leonardo Dias, da Lado Arquitetura, cujo projeto vencedor foi batizado de R.I.P (Requiescat In Pace – To Remember. To Inform. To Protect.), disponível no site do concurso1.
A ideia do equipamento urbano é reunir em um totem modulável três funções e conceitos: a higienização das mãos (pia com água e sabão), a humanização dos dados (memorial com fotos das vítimas do coronavírus) e a informação aos cidadãos (painel com medidas preventivas). “Eu parti da ideia de disponibilizar nas ruas um equipamento para os pedestres lavarem as mãos através de um sistema de acionamento automático. Ao mesmo tempo, queria que esse espaço pudesse alertar a população para medidas preventivas e outras informações de relevância pública, projetadas por meio de grandes paineis de LED. Como forma de humanizar a situação e manter a memória dos que perderam a vida por causa da Covid-19, o equipamento também é um espaço oferecido às famílias parar prestarem suas homenagens com fotos ou trechos da história de vida dessas pessoas”, explica o arquiteto.
Parcerias para implantação do projeto nas cidades
A proposta vem sendo desenvolvida e discutida junto à Rede de Apoio Nacional de combate ao coronavírus. O próximo passo, segundo Dias, é buscar parcerias para aprimorar e viabilizar o projeto junto a prefeituras, empresas e organizações sanitárias.
O equipamento foi desenhado para se adaptar tanto a grandes quanto a pequenas áreas, em qualquer cidade do mundo. A base do totem é um módulo único projetado para instalação em locais mais estreitos ou de alto tráfego de pessoas, como calçadas, em frente a estações de metrô e terminais de ônibus. Já a versão em quatro módulos é adequada a grandes espaços abertos, como praças, parques e possíveis eventos pós-pandemia. O projeto prevê ainda a instalação de placas solares no topo de cada módulo para armazenar e suprir o consumo de energia total ou parcial do sistema, além de um reservatório de água na parte interna do totem.
“Existem várias formas de viabilizar uma proposta como essa, seja por iniciativa do governo investindo em novos equipamentos urbanos ou por meio de empresas que poderiam patrocinar sua fabricação e manutenção. Dependendo da capacidade de investimento, é possível utilizar um sistema mais simples ou até as mais avançadas tecnologias. Outros dispositivos poderiam ser incrementados ao totem, como sensores de temperatura corporal, higienização através de raios ultravioleta, câmeras de segurança e chamada de emergência. A ideia é que o projeto se torne um equipamento público tão comum como bancos e lixeiras e que, mesmo após o abrandamento da situação de pandemia, permaneça servindo à população e estimulando hábitos de higiene”, resume Dias.
Quanto ao custo do equipamento, o arquiteto diz que outros materiais podem ser utilizados para diminuir drasticamente o seu preço de produção. Alguns exemplos: em vez de paineis de LED – cartazes com iluminação; em vez de chapas de aço – estrutura de ferro e acabamento ACM simples na parte externa; em vez do acionamento por sensores – acionamento através de pedal mecânico; em vez da placa solar e do reservatório – conexão direta com rede de energia e água. Dessa forma, o custo poderá ser mais de 10 vezes inferior, tendo uma variação grande para se adaptar a todo tipo de investimento.
3 perguntas para Leonardo Dias:
1 – Uma das inspirações para esse projeto?
Estudei arquitetura por um ano em Chicago, nos Estados Unidos, graças a uma bolsa de estudos oferecida pelo programa Ciências sem Fronteiras, e eu sempre passava em frente a uma obra interativa chamada de Crown Fountain. Nela apareciam as imagens de rostos de moradores reais da cidade numa estrutura com altura de 30 metros. Aquilo me intrigava e, quando fiz o projeto para o concurso, me lembrei daquela experiência.
2 – Esse é o 10º prêmio que você conquista. Qual o significado dele?
Mais do que o reconhecimento de uma boa ideia, o que me alegra é usar o meu trabalho para um causa nobre. Escolhi a arquitetura como profissão porque ela me dá a possibilidade de impactar e melhorar a vida das pessoas. O prêmio é uma consequência e uma forma de dar visibilidade a um projeto que eu quero levar pra frente.
3 – Se pudesse escolher um local para instalar o seu equipamento urbano, onde seria?
Eu moro no Centro da cidade de São Paulo e adoraria vê-lo instalado na Praça da República, um marco da história da capital e um local de bastante movimento. Também gostaria de implementá-lo nas periferias, onde há pessoas carentes com acesso restrito à água potável e que precisam de iniciativas como essa.
- O site não existe mais, portanto retiramos o link. ↩︎