Dia após dia profissões surgem e deixam de existir. E o Design, estaria destinado a desaparecer também? Relembre um pouco do passado, pense no presente e embarque nesta discussão sobre a posição de Designer de Interfaces no futuro. Vivo em um vai-e-vem eterno entre metrópole e interior. Acabo observando bastante nossa sociedade, suas particularidades e …
Era uma vez um Designer?
Dia após dia profissões surgem e deixam de existir. E o Design, estaria destinado a desaparecer também? Relembre um pouco do passado, pense no presente e embarque nesta discussão sobre a posição de Designer de Interfaces no futuro.
Vivo em um vai-e-vem eterno entre metrópole e interior. Acabo observando bastante nossa sociedade, suas particularidades e evoluções. Não há ocasião melhor para uma boa observação filosófica do que as longas horas em trânsito, afinal. Neste fim de semana me deparei com um caso interessante no interior, me fez pensar.
Fui introduzido por meu sogro a um senhor de posição outrora instigante. Teve status quando jovem e boa remuneração para criar os filhos. Hoje, sua profissão morreu. Observei-o falar com brilho nos olhos.
Houve um tempo que os cinemas eram a maior atração das pequenas cidades, no Brasil e no mundo — recomendo a obra-prima italiana Cinema Paradiso para uma narrativa da época. Crianças, jovens e adultos vibravam com as histórias audiovisuais de um paraíso distante e contavam as horas para a chegada de novos filmes.
Cumprindo seu papel, as vitrines do edifício do cinema se encarregavam de encantar e cativar o público para a próxima sessão. Como não havia distribuição de impressos hábeis artistas precisavam ilustrar cada pôster de filme! Consegue imaginar? Inacreditável, mas real. E era isso que aquele senhor fazia: pintava cartazes de filmes.
Uma profissão de grande responsabilidade e importância na época, pare para pensar. O homem pintava Clint Eastwood, o Mau e o Feio numa semana. Noutra mandava uma tinta branca por cima, perdia o resultado para sempre e caprichava no olhar apaixonado entre Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Com a popularização dos impressos, seu cargo perdeu o sentido. Hoje é só um brilho saudoso nos olhos do velho.
Tomei outro gole silencioso de minha bebida. Botei a empatia pra funcionar e calcei os sapatos do velho. E se o Design acabasse um dia? Opa, espera. Quando falamos de Design de Interfaces há uma possibilidade bem plausível. Vamos falar sobre isso! Antes, porém, uma revisão rápida sobre como chegamos aqui.
As raízes do Design Gráfico
Não tenho intenção de narrar profunda ou detalhadamente a História do Design. Para isso indico os sites Design
History, History Of Graphic Design e Design Is History. Pretendo somente levantar as evoluções, o que resultou de outras coisas e como certas profissões surgiram e deixaram de existir.
No livro A History of Graphic Design, por exemplo, Philip Meggs introduz a história do design gráfico de uma forma que gosto bastante:
Desde a pré-história, as pessoas têm procurado maneiras de representar visualmente ideias e conceitos, guardar conhecimento graficamente, e dar ordem e clareza à informação. Ao longo dos anos essas necessidades têm sido supridas por escribas, impressores e artistas. Não foi até 1922, quando o célebre designer de livros William Addison Dwiggins cunhou o termo “designer gráfico” para descrever as atividades de um indivíduo que traz ordem estrutural e forma à comunicação impressa, que uma profissão emergente recebeu um nome apropriado. No entanto, o designer gráfico contemporâneo é herdeiro de uma ancestralidade célebre.
Bauhaus e o Design saído da Arquitetura
Em 1928 o brilhante Aldous Huxley (autor de Admirável Mundo Novo) profetizava:
É óbvio que as máquinas estão aqui para ficar. Exércitos completos de Tólstoi não poderiam mais expulsá-las… Que possamos então explorá-las e criar o belo — um belo moderno, que é o que nos resta.
Ideias como esta, de movimentos avançados de arte pipocavam na Europa no início do século XX e, aliadas à carência de projeto nas produções de máquinas na Alemanha, foi fundada a primeira escola a ensinar e fundamentar o Design: A Staatliches-Bauhaus.
Em 1919, ainda como uma escola de Arquitetura, a Bauhaus integrou o Design Gráfico à sua grade. O que antes era uma disciplina virou curso solo e ganhou o mundo. Em 1951 Pietro Bardi fundou o curso IAC (Instituto de Arte Contemporânea) no Masp-SP e trouxe o arquiteto suíço Max Bill para palestrar. Quando o suíço retornou a Alemanha, fundou a Escola Superior da Forma (ULM Design) e se interessou por levar um brasileiro para aprender com ele. Bill, que havia se formado na Bauhaus levou então Alexandre Wollner. Ao graduar-se, retornou ao Brasil e fundou o primeiro escritório e curso de Design do Brasil (ESDI) em 1963.
Acredite, era assim que o Design Gráfico era feito. Reconhece TODAS as ferramentas que usa no Photoshop hoje?
Design para a Web
Com o surgimento da linguagem HTML (Hypertext Markup Language) mais um campo de trabalho se ofereceu aos Designers Gráficos: a boa e velha internet!
Gradualmente a área foi evoluindo e o uso da linguagem de marcação se adaptou e se tornou mais complexo. As competências de quem trabalhava na área começaram a se expandir e daí saiu o Designer de Interfaces — que passou a cuidar exclusivamente da comunicação visual e interativa entre sistemas e usuários.
Hoje em dia a disciplina de Experiência do Usuário tomou a prática por completo e se expande diariamente a fim de aperfeiçoar e agilizar o acesso do usuário. E as coisas certamente vão caminhar muito mais. Será que um dia esse aprimoramento atingirá seu ápice? E depois disso?
O futuro
Não acredito que o Design de Interfaces vá durar muito mais. Pelo menos não nos moldes que trabalhamos hoje – o fim é iminente. Por essa e por outras razões penso que tenhamos no máximo uma década, não mais que isso. Não acredita? Listo alguns indícios importantes:
1 – A tendência redutiva no Design de Interfaces nos levará a um universo cada vez mais massificado de sistemas que funcionam muito bem, ainda que descartem interfaces exclusivas;
2 – O processo de automação generalizado que atinge a internet, bem como a solidificação de um guia de best practices para UX deverão impactar a área de produção de interfaces, pelo menos para projetos mais simples que serão criados por plataformas artificialmente inteligentes;
3 -E finalmente, o empoderamento dos usuários digitais tende a crescer cada vez mais e não tardará o momento em que os mesmos decidirão por customizar suas telas, alterando componentes e o visual dos mesmos — novamente lembrando, ainda que isto prejudique o caráter da usabilidade da navegação — o que não importa a estes usuários.
Mas não se desespere, caro leitor empático. Também acredito que, com o surgimento de outros devices e tecnologias, novas formas de representar a interação homem-máquina serão necessárias. Possivelmente não visuais ou bidimensionais como estamos acostumados — mas basta aguardar e descobriremos.
“Teremos de construir pontes para rios que ainda nem descobrimos” — diria eu mesmo, procurando uma boa metáfora.
Cabe a nós profissionais enxergarmos as mudanças graduais e nos mantermos curiosos e sedentos por aprender sempre mais. Sobre o que fazemos e sobre novas tendências que surgem aqui e ali. Discutir nos comentários, me criticar ou apoiar também é sempre muito legal 😛
Aproveite para debater o Design de Interfaces com seus iguais enquanto ainda é tempo. Um dia seus netos vão achar super curioso o avô contar que ganhava a vida desenhando páginas e sistemas para a Internet, além de alguns programinhas para uma coisa que existiu, que costumávamos chamar de telefone celular.
Agradeço seus minutos de leitura. Se curtiu espalhe a palavra ou me mande um tweet de apoio ou questionamento, vai ajudar me motivando a escrever.
Tenha uma maravilhosa semana, até a próxima!