O ambiente é descontraído mas os deadlines sempre apertados — essa é uma constante no mundo do design gráfico. Apesar das semelhanças entre as diversas áreas de atuação da profissão, o processo criativo varia bastante de acordo com o conteúdo e a cultura de cada país. Para entender mais sobre essas diferenças, conversamos com o …
O design de entretenimento no Brasil
O ambiente é descontraído mas os deadlines sempre apertados — essa é uma constante no mundo do design gráfico. Apesar das semelhanças entre as diversas áreas de atuação da profissão, o processo criativo varia bastante de acordo com o conteúdo e a cultura de cada país.
Para entender mais sobre essas diferenças, conversamos com o Rodrigo Trabbold, diretor de arte que em 2015 migrou da publicidade para o design de entretenimento, e do Brasil para os Estados Unidos. Rodrigo trabalhou em grandes agências de publicidade como a Grey Brasil, antiga DM9DDB, Young&Rubicam Miami e Riot Brasil. Ele se mudou para Los Angeles para recomeçar a sua carreira na industria de entretenimento, focando especialmente em filmes e música. Há 4 anos ele trabalha para a Global Tour Creatives, a maior agência de turnês do mundo, e cria materiais para promoção de turnês de artistas globais como John Mayer, Taylor Swift, The Eagles, Paul McCartney, Elton John, Bon Jovi, Blink-182 entre outros — desde o desenvolvimento de uma key-art da turnê até a campanha de mídias sociais e anúncios em revistas.
Mesmo não tendo trabalhado na indústria de entretenimento antes da sua mudança para os Estados Unidos, Rodrigo nos conta que há uma grande diferença entre os dois mercados e territórios. Segundo Rodrigo, o Brasil inspira designers com sua infinita variedade de artistas e gêneros, mas o material de divulgação das turnês brasileiras ainda é criado com uma grande influência do mundo de eventos ao invés do mundo da indústria musical. Por exemplo, se você buscar no Google Imagens o nome de uma Banda + nome da turnê + ano, você consegue ver uma grande diferença visual entre os dois países. Enquanto no Brasil vemos uma variedade de fotos, estilos e cores — como uma divulgação de um evento ou festa — nos EUA vemos uma unidade mais visível, literalmente um branding do(a) artista com sua respectiva turnê. Isso se aplica até em shows de artistas internacionais no Brasil, onde grande parte do conteúdo das turnês ainda é importado dos EUA.
Estamos falando de mercados e territórios diferentes com culturas diferentes, mas quando se trata de artistas globais com uma grande presença internacional, como Anitta por exemplo, essas diferenças ainda são vistas e podem impactar negativamente a imagem do(a) artista em questão: desde uma pequena confusão na hora da compra de ingressos até a credibilidade que a turnê e o artista passam para o consumidor e fã – o que pode ser facilmente resolvido com um design unificado. Rodrigo continua “uma vez que o artista e sua marca são divulgados em diferentes meios com diferentes identidades visuais, diferentes fontes e fotos, a imagem geral dessa marca e do artista é afetada. Isso poderia ser facilmente evitado se o processo de criação e workflow dessas campanhas de divulgação das turnês fossem unificados, com uma única identidade e um único time aprovando o conteúdo a ser publicado.”
Em Los Angeles por exemplo, o processo de criação na indústria de entretenimento é muito semelhante ao da publicidade. Rodrigo nos conta que tudo começa com o briefing direto do artista e seu agente para a turnê, que muitas vezes é baseada no lançamento de um album. A partir do briefing e dos materiais fornecidos pelos clientes, a GTC faz uma pesquisa e brainstorm de conceitos, para que tudo seja bem alinhado e para que a arte tenha uma direção clara e um conceito visual forte. A GTC normalmente apresenta um mínimo de 2 opções e conceitos para cada turnê. Com o conceito amarrado, os designers colocam a mão na massa. Muitas vezes esse trabalho começa no papel, com rascunhos básicos para a visualização do que pode ou não funcionar com as fotos e conceitos fornecidos. A partir daí, é criada a arte principal (key-art) que, uma vez aprovada, é desdobrada para diferentes meios de comunicação — como mídias sociais, outdoors, anúncios em revistas e até merchandising. “Tudo varia de turnê para turnê, mas esse é normalmente o processo e o material entregue ao cliente — ou seja, tudo fica unificado e com uma única identidade visual aprovada pelos artistas diretamente. Assim, quando os fãs veem algo do artista que gostam na rua, eles já imediatamente relacionam a arte com a turnê mais recente” diz Rodrigo.
São diferenças assim que fortalecem a marca de grandes artistas e suas turnês. Com o design bem resolvido e uma identidade visual criada especialmente para o artista, a percepção das pessoas sobre esse artista também é afetada positivamente, o que acaba favorecendo a exportação da música e até a venda de ingressos. Tudo a partir de um design claro e unificado.
Artigo por: Rodrigo Trabbold