Sinalização, ícones e ideogramas determinam nossa comunicação diária enquanto sistemas pictográficos nos guiam e dominam o espaço público. Muito do que entendemos como linguagem visual se origina no Método de Estatísticas Pictóricas de Viena, de Otto Neurath, posteriormente conhecido como ISOTYPE (International System of Typographic Picture Education). No início do século XX, o cientista social …
Palavras dividem, imagens unem
Sinalização, ícones e ideogramas determinam nossa comunicação diária enquanto sistemas pictográficos nos guiam e dominam o espaço público. Muito do que entendemos como linguagem visual se origina no Método de Estatísticas Pictóricas de Viena, de Otto Neurath, posteriormente conhecido como ISOTYPE (International System of Typographic Picture Education).
No início do século XX, o cientista social Otto Neurath (Viena, 1882 — Oxford, 1945) estudava e debatia em grupos filosóficos formas de refinar e ampliar a difusão de informação na sociedade em quem vivia. Com uma formação híbrida em Sociologia e Economia, o professor Neurath considerava que o campo das Ciências Sociais precisava alcançar um padrão maior de objetividade equiparando-se às Ciências Exatas. Segundo ele, certas coisas não poderiam ser ditas apenas com palavras mas, com o auxílio da linguagem pictórica, poderiam ser comunicados com mais clareza.
Com isso, reuniu uma equipe e passou a trabalhar em um sistema que padronizasse em forma de técnicas e processos este uso de informações em uma linguagem gráfica. Em um contexto de transformações e revoluções sociais o sistema visava também viabilizar e traduzir conceitos complexos em informação acessível a públicos não especializados.
O método ISOTYPE talvez se torne um dos fatores que irão ajudar a criar uma civilização onde todas as pessoas compartilham uma cultura comum e o vão entre as pessoas educadas e as não educadas poderá desaparecer.
Otto Neurath, 1940.
Tomando o mundo
O sistema, iniciado e aplicado na Áustria, ganhou relevância e se proliferou enquanto seus membros Otto, a esposa Marie Neurath e o artista Gerd Arntz fugiam do Nazi-Facismo que tomou de assalto o coração da Europa. O grupo e sua produção caminharam da Holanda ao Reino Unido. Atingiram depois a União Soviética e finalmente os Estados Unidos.
Finalmente, em 1976, quando o AIGA (American Institute of Graphic Arts) criou um sistema de sinalização pictográfico para o Departamento de Transporte Norte-Americano com óbvias inspirações no ISOTYPE, surgiu o primeiro padrão internacional no uso de pictogramas.
A história do ISOTYPE funciona perfeitamente como um case do Movimento Modernista e de como as coisas funcionavam na evolução de conceitos mundiais. É um marco como método pioneiro de comunicação visual e impacta diretamente no que hoje conhecemos como Design de Informação.
Baseado em seu potencial de alcance (sem discriminação de público, idade, grau de instrução ou nacionalidade), essa abordagem foi explorada e evoluída amplamente desde então.
Neutralidade em Comunicação
Na prática, enquanto criavam a representação pictográfica de um homem, Neurath e Arntz não consideraram detalhes naturalistas da figura. Optavam justamente pela idéia da generalidade humana. Segundo Neurath um pictograma ISOTYPE era “uma expressão de neutralidade”, o que só podia ser atingido através da “simplificação formal”.
Dentre muitas observações importantes Otto Neurath também destacou:
Não há nenhum assunto onde uma certa humanização de conhecimento através do Visual não se faça importante.
Já no século XXI, é interessantíssimo constatar o quanto tais ideias e conceitos são atuais. Mergulhamos cada vez mais em uma sociedade de dados e informação, o que torna fundamental sistemas que transmitam mensagens de forma correta, com agilidade e coerência.
Assim, estudar e redescobrir a História do Design e da Comunicação em Massa nos faz andar sempre adiante, mais seguros e conscientes de nossas funções e responsabilidades. Afinal, como bem destacou Sérgio Buarque de Holanda, “a história não é a prisão ao passado. Ela é mudança, é movimento, é transformação“.
Se você gosta e valoriza deste tipo de conteúdo, me apóie compartilhando. Assim encontrarei mais motivação para pesquisar e produzir de maneira constante. A História é vasta e há, sempre, muito material interessante a ser apresentado por aqui. Obrigado por seus minutos de atenção!